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Itaú muda cúpula e fica mais jovem para enfrentar fintechs e mundo digital


O perfil do executivo que vai comandar o Itaú Unibanco a partir de fevereiro do ano que vem representa mais que uma simples troca de nomes no comando do maior banco privado do país, dizem analistas de mercado. Segundo profissionais que acompanham de perto a instituição financeira, a escolha de Milton Maluhy Filho, 44 anos, representa uma troca de guarda que terá consequências na estratégia do grupo. Fechar agências físicas e atuar mais no digital, por exemplo.

Para analistas ouvidos pelo UOL, ao optar por Maluhy, o conselho do Itaú Unibanco enviou a seguinte mensagem aos demais executivos do banco, funcionários, clientes e mesmo concorrentes: a maior instituição privada do país precisa melhorar a relação com clientes, ganhar terreno na oferta de serviços e produtos no meio digital e ser mais rentável. Algo que o atual presidente do banco, Candido Bracher, reconheceu.

“Os principais desafios que seguem com o banco, para sermos sucintos, são dois: é promover a transformação digital do banco e buscar o crescimento em todas as linhas de negócios do banco. Quer dizer, esses são os dois principais desafios. Naturalmente, tudo isso, sempre com o nosso objetivo maior, que é a centralidade no cliente, que é, enfim, procurar cada vez mais que os nossos clientes tenham a melhor experiência do mercado ao usar os nossos produtos”, disse Bracher na teleconferência de resultados a analistas e jornalistas, no dia em que o substituto dele foi anunciado.

Por que novo presidente do Itaú Unibanco é uma troca de guarda?

Milton Maluhy Filho representa o novo no Itaú Unibanco, dizem analistas de mercado por causa da idade – apenas 44 anos – e pelo histórico profissional. Essa é a opinião de Carlos Macedo, analista da Omninvest, profissional que já foi vice presidente do banco americano Goldman Sachs e superintendente do Itau BBA.

Para mim é uma mudança de guarda. O banco está trocando a guarda anterior por uma nova guarda. Tanto que os que ficaram de fora eram de uma guarda anterior. Carlos Macedo, analista da casa de análises Omninvest

  • Idade: Os demais potenciais candidatos ao cargo, casos do diretor-geral de varejo, Marcio Schettini, e do diretor de atacado e CEO do Itaú BBA (banco de investimento), Caio David, têm mais de 50 anos de idade.

O estatuto do banco determina que o presidente deve ser trocado quando atinge 62 anos de idade. Se Maluhy seguir no cargo até essa idade, os demais executivos já estarão fora da disputa. Ou seja, os próximos líderes do banco sairão das fileiras mais jovens da instituição. Esse seria um dos motivos pelos quais Schettini e David deixaram a instituição.

  • Carreira: Ao longo de duas décadas, o novo presidente do Itaú Unibanco atuou em diversas áreas do banco antes de chegar à vice-presidência de Finanças -atual cargo. Mas ele se destacou ao comandar como CEO o Itaú Chile, unidade do banco no mercado chileno, e a empresa de meios de pagamento Rede, no mercado das maquininhas.

Quando comandava a Rede, o mercado de meios de pagamento passava por uma abertura que permitiu a entrada de novas concorrentes em um setor então dominado apenas por duas companhias -e ambas ligadas a bancos.

Ele teve alguns desafios importantes, e um deles foi enfrentar uma nova concorrência, como quando estava na Rede, e isso contou na escolha do banco. Jorge Junqueira, sócio e chefe de renda variável da Gauss Capital, que também teve passagem pelo Itau BBA.

Por que o novo presidente pode representar novas estratégias

Segundo Junqueira, da Gauss Capital, a saída dos demais diretores que eram potenciais candidatos ao cargo assumido por Maluhy Filho dá ao novo presidente a disponibilidade para promover as pessoas que ele quer ter como lideranças no banco.

Uma das condições necessárias para que Maluhy Filho possa implementar as mudanças que o Itaú Unibanco precisa, dizem analistas.

A nomeação de um novo ceo envia uma forte mensagem aos acionistas de que o banco quer mudanças ousadas. Tudo, desde a centralização no cliente, passando por corte de custos, busca por eficiência e agilidade, chegando à digitalização, a fim de transformar o banco para que ele possa competir de igual para igual, não apenas com outros bancos tradicionais, mas em especial com novos participantes que começaram a corroer partes da lucratividade em áreas como aquisição de cartões, corretagem de varejo e gestão de patrimônio. Eduardo Nishio, analista da Genial Investimentos

Quais os desafios do novo presidente do Itaú?

Os números do último balanço do Itaú Unibanco, com queda de 30% do lucro no terceiro trimestre deste ano em comparação com igual período de 2019, sinalizam o desafio de manter a rentabilidade da operação, dizem analistas.

Segundo os profissionais ouvidos, a queda dos ganhos dos bancos tem fontes pontuais, como o aumento da inadimplência em meio à crise econômica provocada pelas medidas de isolamento social para conter a covid-19. Mas há causas que vieram para ficar, dizem esses profissionais, citando algumas:

  • Barreiras de entradas: Para competir com bancos no passado recente, uma nova empresa tinha que gastar muito em rede de agências, segurança e tecnologia. Nos últimos anos, essa barreira de entrada está sendo derrubada, pois uma fintech já consegue oferecer crédito ou produtos de investimentos a novos clientes graças à Internet.

“Esse processo vai ser acelerado com o Pix e o open banking, que vão permitir que mais empresas tenham acesso a mais pessoas que hoje são clientes de bancos. Estamos vendo uma mudança profunda na forma com que as pessoas fazem transações financeiras”, diz Macedo, da Omninvest.

  • Necessidade de inovação: Para competir com novas empresas, o banco precisa inovar, com o lançamento de produtos e serviços diferentes daquilo que sempre foi vendido no mercado. O desafio de uma instituição financeira do porte do Itaú Unibanco é colocar a inovação como prioridade no meio de tantas outras demandas.

Como outros grandes bancos, o Itaú Unibanco é resultado de aquisições de outras instituições financeiras menores. E esse legado que vem de diferentes sistemas e processos aumenta o grau de complexidade de qualquer mudança.

“Quando surge um projeto de produto ou serviço inovador, ele entra na fila da TI. E por ter tantos sistemas de legado, isso exige do banco a necessidade de ficar apagando incêndio em vez de inovar”, diz Macedo, da Omninvest.

  • Foco no cliente: Um banco do porte do Itaú Unibanco consegue elevar receita vendendo mais produtos para um mesmo cliente que entrou lá por um único motivo – como receber via conta-salário ou financiar a casa própria -mas acaba adquirindo outros serviços e produtos que já estavam lá na prateleira do gerente.

Com a maior concorrência de bancos digitais e fintechs, essa estratégia tradicional dos grandes bancos tende a perder força, dizem analistas de mercado. E por isso, o Itaú Unibanco, como líder de mercado, terá que mudar a forma de desenvolver e vender produtos e serviços.

O foco de Maluhy provavelmente será na transformação digital e em fazer do cliente o centro da atenção. Marcelo Telles, analista do Credit Suisse Marcelo Telles

Mais produtos digitais

“O novo presidente é ligado à tecnologia e finanças, enquanto os dois executivos que saíram são os atuais líderes das áreas de varejo e de atacado. Para mim, isso sinaliza que teremos uma mudança forte, com fechamento de agências e impulsão da parte digital”, diz o sócio e gestor da gestora de recursos AF Invest, Leandro Cyrino.

“Todos os bancos estão tentando acelerar o passo. Os bancos devem sacrificar um pouco de receita para disputar clientes em novos serviços”, diz o analista da Genial Investimentos, Eduardo Nishio.

Fonte: João José Oliveira, Do UOL, em São Paulo

Diretoria Executiva da CONTEC

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