Instituto estuda a possibilidade de abrir um pregão para ajustar o quanto recebe por benefícios concedidos antes de 2010
Dos seis bancos que venceram a preferência para o pagamento de benefícios do INSS, três deles não chegavam a marca de 2 milhões de clientes na carteira de crédito ativa em junho deste ano, segundo dados do Banco Central.
Crefisa, Agibank e Mercantil do Brasil levaram, juntos, 21 dos 26 lotes preparados pelo instituto. BMG, Itaú e Santander levaram os outros quatro.
Ao arrematar dez lotes no leilão da folha, realizado pelo INSS no início de novembro, a Crefisa passará a ter a preferência no pagamento de benefícios concedidos a partir de janeiro do próximo ano em um conjunto de estados com potencial de 1,6 milhão de novos clientes em um ano.
O banco, muito popular por sua operação como financeira, na qual concede empréstimo pessoal para consumidores com restrição de crédito, vai administrar as novas concessões a aposentados na capital paulista, no estado do Rio de Janeiro, em toda a região Norte e, no Nordeste, será responsável por Pernambuco, Ceará, Pará, Rio Grande do Norte e Piauí. Na Bahia, levou Salvador e os municípios do Recôncavo.
Na prática, quem tiver uma aposentadoria, pensão ou benefício por incapacidade concedido a partir de 2020, nessas regiões, receberá o primeiro pagamento na Crefisa.
O Agibank ficou com três lotes, dois no Rio Grande do Sul e o estado do Maranhão. Garantiu também o segundo lugar na capital paulista. Essa colocação garante que, se a capacidade operacional da Crefisa em fazer os pagamentos se esgotar, as concessões serão do banco gaúcho.
Para o diretor de negócios do Agibank, Glauber Correa, o recebimento de benefícios previdenciários é um posicionamento importante para o banco, principalmente pela dimensão do público-alvo e potencial de expansão.
"Você faz um primeiro contato, prioritário. É muito importante que a gente possa iniciar esse primeiro atendimento. E é uma chance de o cliente gostar desse tratamento e ficar com a gente", afirma.
Por regra do edital, o segurado, após a concessão, receberá um cartão magnético e, se quiser, poderá manter essa ligação com o banco designado pelo INSS, sem a necessidade de abrir uma conta-corrente. Esse cartão poderá ser usado para compras no débito —até então, ele só servia para saques.
Mesmo com a preferência, o aposentado ou pensionista não é obrigado a ficar ligado a esses bancos. Se já é correntista em outra instituição, tem o direito de pedir a transferência dos depósitos para outro banco.
A participação dos bancos menores foi considerada, pelo INSS, um dos motivos do ágio —a diferença entre o preço mínimo e o valor final— no leilão. Em alguns lotes, o lance final levou 30 horas para sair e o preço ficou até 3.000% maior do que o estabelecido como mínimo no edital.
A principal mudança na regra atual foi a permissão para que bancos digitais participassem, desde que comprovassem rede de atendimento, seja em agência ou por correspondente bancário.
Para cada benefício pago, os bancos pagarão um valor ao INSS. Esse recolhimento variou de acordo com o lote. Na capital paulista, cada concessão custará R$ 65,50 ao vencedor —nesse caso, a Crefisa. No Rio Grande do Sul, um dos lotes mais disputados, cada benefício custará R$ 45,02 ao Agibank.
O Mercantil do Brasil ficou com a preferência em oito regiões. Na Grande SP, vai pagar R$ 58,68 por benefício. O banco garantiu um potencial de 2 milhões de novos clientes em um ano.
Em junho, o Mercantil tinha ativos totais de R$ 9,6 bilhões, segundo o Banco Central. Crefisa, tinha R$ 5,9 bilhões em ativos, e o Agibank, R$ 2,5 bilhões. O BMG, com R$ 17 bilhões em ativos, arrematou os pagamentos em Sergipe e Alagoas, e poderá ganhar, em 2020, 108,6 mil novos clientes.
Para se ter um ideia da diferença no tamanho desses bancos ante os maiores do país, o Itaú –que levou um lote pequeno, de 89 mil benefícios em 12 meses –soma R$ 1,51 trilhão em ativos totais.
O INSS estima que, por mês, sejam concedidos 434 mil benefícios. Nos cinco anos em que esses bancos terão a preferência nos pagamentos, a arrecadação estimada está em R$ 24 bilhões. Para quem já recebe o benefício em outro banco, nada muda.
O instituto estuda agora a realização de um novo pregão. O resultado do último leilão teria, segundo o INSS, imposto a necessidade de rediscussão da remuneração pelo pagamento dos benefícios concedidos antes de 2010, ou seja, antes do primeiro pregão da folha.
A remuneração média desse estoque é de R$ 0,33 por benefício.
Folha de SP