O Open Banking vai permitir que o cliente de um banco compartilhe seu histórico financeiro e dados com outras instituições. O objetivo é estimular a concorrência.
Nesta sexta-feira (13), o sistema financeiro vai entrar em uma nova era no Brasil. Um momento em que o presidente do Banco Central afirma ser tão revolucionário quanto a internet.
Se é no presente que a vida acontece, é no passado que ela começa...
Mudou o jeito de vender na mercearia abrigada pelo arranha-céu mais antigo de São Paulo. O bacalhau, procurado pelos primeiros imigrantes, ainda está lá, assim como a conta aberta no mesmo banco há mais de quatro décadas.
“Quando eu entro na agência, eles me chamam pelo nome, eles me reconhecem. Eu tenho histórico de bom pagador, o banco sabe que eu sou uma pessoa que nunca teve problema na conta”, diz Miguel Romano, proprietário da mercearia.
É com base nas informações da vida financeira do cliente que o banco trabalha para avaliar riscos e oferecer benefícios ao longo do tempo. Só que esse histórico fica apenas com o banco onde se tem conta. E aí quem vê que outra instituição tem, por exemplo, condições melhores para um financiamento, precisa começar um relacionamento do zero.
É essa lógica que deve mudar, com a chegada do que promete ser mais uma revolução no sistema financeiro: o cliente, na prática, vai virar dono dos dados dele e levar as informações para onde achar melhor.
Ele poderá, se quiser, autorizar que outras instituições financeiras, onde não tem conta, passem a enxergar seus dados. É como se cada um, a partir das informações pessoais que decidir compartilhar, criasse o próprio banco.
A novidade foi batizada no mundo de Open Banking: na tradução, sistema bancário aberto.
“O Open Banking é o reconhecimento de que o dado do cliente pertence ao cliente. E o que a gente está fazendo é permitindo que o cliente use esse dado em favor dele próprio para obter produtos melhores, mais convenientes e mais baratos para ele”, explica o diretor de Regulação do Banco Central, Otávio Ribeiro Damaso.
O cliente vai decidir para onde a informação dele deve fluir numa espécie de trilho digital que conecta a instituição financeira dele às outras, sem barreiras.
“Hoje, por que tem os prazos? Porque quando eu peço uma portabilidade, é um sistema de uma instituição financeira que tem que mandar para outra instituição financeira, que tem outro sistema que tem que fazer a leitura e a tradução dessas informações, e tem todo um processo tecnológico por trás. O Open Banking é um trilho liso, reto e padronizado entre todas as instituições financeiras”, diz a economista Ana Carla Abrão.
As 11 maiores instituições financeiras do país são obrigadas a entrar nesse trilho. E podem participar as outras autorizadas, reguladas e supervisionadas pelo Banco Central, que dá como garantia uma viagem segura: “Não existe a possibilidade de as informações serem transacionadas com um terceiro que não faça parte do sistema financeiro”, garante Otávio Damaso.
“Essas informações não serão públicas, não serão divulgadas na internet, ninguém vai ver. Ele está protegido embaixo de um ambiente de segurança. Tudo isso mediante consentimento, mediante autorização do cliente. Ele está dando consentimento para que uma instituição financeira compartilhe os seus dados com outra instituição financeira”, explica o diretor de Inovação, Produtos e Serviços Bancários da Febraban, Leandro Vilain.
Ao compartilhar os dados, você escolhe por quanto tempo, para qual banco e que tipo de informação quer liberar: pode ser da conta corrente e não do cartão de crédito, por exemplo.
“Ele dá condições para que instituições financeiras que estão entrando no mercado possam ter as informações da mesma forma que uma grande instituição financeira”, diz Leandro Vilain.
“É como se seu banco através desse compartilhamento de informação propiciasse a outros bancos te ofertarem crédito também, e espera-se que com isso os custos do crédito caiam e novas formas de fazer análise de taxa de juros cobradas em empréstimo também aconteçam, reduzindo o custo das operações do usuário final”, afirma o economista e professor da FGV Lauro Gonzalez.
Quem estuda economia lembra que só no dicionário "mudança" vem na frente de "tempo".
“Os novos produtos, novos serviços, o impacto de redução de juros, de mais crédito, de maior inclusão financeira, virá com o tempo, com adaptação das instituições a esse novo modelo, a essa nova formatação do sistema financeiro”, explica Ana Carla Abrão.
“É um pouco como a internet. A internet no início ela tinha um uso muito limitado e hoje a gente está fazendo essa entrevista aqui graças à internet”, compara Otávio Damaso.
E se a tecnologia move o mundo, esse é um caminho feito só de ida.
Nos últimos quatro anos, o país viu o número de agências bancárias cair, e nove em cada 10 contratações de crédito aconteceram de forma eletrônica.
Repórter: A forma como a gente se relacionava com banco era uma história da vida inteira. Isso agora vai mudar?
Lauro Gonzalez: Isso na verdade, as novas tecnologias e a digitalização já vêm trazendo essas mudanças, o que não significa que não haverá o papel dos bancos tradicionais, dada a importância e a segurança que essas instituições oferecem. Provavelmente elas terão papel relevante dentro deste mercado, novos modelos de negócios, novos arranjos devem surgir no contexto do Open Banking. E aí é tudo uma questão de modelo de negócio e arranjos que se conectem mais às necessidades das pessoas.
G1
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