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Setor financeiro cresce em meio à pandemia, com boom de fintechs e bancos digitais

Ao menos 40 empresas do setor abriram as portas em 2020 após longo período de queda


Enquanto empresas de outros setores fecharam as portas em meio à crise gerada pela pandemia da Covid-19, ao menos 40 instituições financeiras iniciaram suas atividades em 2020, segundo dados do Banco Central. O distanciamento social criou um ambiente propício para que surgissem mais fintechs e bancos digitais, que são especializados em tecnologia e serviços por aplicativos.


O movimento no sistema financeiro é contrário ao observado entre 2013 e 2018, quando houve redução de quase 10% na quantidade de instituições no país. O número de empresas do setor financeiro voltou a crescer em 2019, depois da regulação das fintechs de crédito, e terminou o ano com 13 instituições a mais.


Com o isolamento social, as pessoas precisaram fazer operações bancárias à distância e o segmento digital ganhou ainda mais tração.


“A pandemia pode ter potencializado esse crescimento já que as entidades com base digital não precisam de rede física para alcançar os clientes, fazem isso por meio de aplicativos”, diz o presidente da ABFintechs (Associação Brasileira de Fintechs), Diego Perez.

Além disso, medidas do BC, como a própria regulação, o sistema de pagamentos instantâneos (Pix), e open banking, que começará a ser implementado em fevereiro, abriram caminho para a entrada de novas instituições. “O número de fintechs vem crescendo com o passar do tempo não só pela adoção do novo modelo de negócios, com serviços digitais que entregam experiência de navegação mais amistosa para o usuário, mas também porque vem sendo feito trabalho de modernização do arcabouço regulatório. Como reflexo, é natural o surgimento de instituições de pagamento e de fintechs”, afirma Perez. Em 2020, existiam 601 instituições financeiras, entre elas 50 fintechs de crédito. Nos dados do BC, não há a quantidade de bancos digitais porque a autoridade monetária não tem uma norma específica, então, são contabilizados como um banco normal (que somavam 177). O dado exclui cooperativas de crédito e administradoras de consórcios —ambos com queda no ano.


No período, eram 26 instituições de pagamentos, que também podem ser consideradas fintechs.

A tendência é de crescimento nos próximos anos, especialmente com o open banking, que será uma plataforma pela qual clientes podem compartilhar informações e encontrar serviços financeiros mais baratos. A ferramenta facilita o acesso a novas instituições e, com isso, as menores podem ganhar visibilidade e aumentar o número de clientes.


“Esse número pode ser ainda maior porque algumas fintechs não possuem autorização regulatória autônoma, mas atuam com bancos parceiros, como correspondente [e não aparecem na lista do BC]. Além disso, existem empresas oferecem serviços bancários básicos, como conta pré-paga e cartão, mas são instituições de pagamentos”, ressalta o presidente da ABFintechs.


A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) afirmou que os bancos também têm passado por um processo de digitalização nos últimos anos. “Atualmente, os investimentos feitos pelo setor bancário em tecnologia são da ordem de R$ 25 bilhões anuais, sendo R$ 2 bilhões em segurança cibernética”, diz o presidente da entidade, Isaac Sidney.


Para ele, os grandes bancos ganham dos menores em inovação tecnológica e regulatória. “No Brasil, já se fazia transferências de recursos, via TED e DOC, antes de muitos países desenvolvidos, sob supervisão do Banco Central”, diz.


“Nesse processo, os bancos, estão muito à frente de alguns novos integrantes da indústria financeira que alardeiam serem os inventores da roda, da inovação e da modernidade desse mercado. Os bancos tradicionais são tão, ou até mais, inovadores que essas empresas, a exemplo das fintechs”, avalia.


Sidney afirma que é saudável ter competição no setor. “A entrada de fintechs e bancos digitais é muito bem-vinda, por permitir mais eficiência de toda a indústria, com inegáveis ganhos para as pessoas e empresas.”


Uma pesquisa do UBS Evidence Lab mostrou que os bancos tradicionais têm perdido espaço entre os consumidores de serviços financeiros por aplicativos. Os downloads de novas instituições representaram 52% e ultrapassaram pela primeira vez os bancos tradicionais, que ficaram com 48% em 2020, até o terceiro trimestre.


Em 2019, a fatia dos bancos maiores era de 52% e em 2014 chegou a 99%. Pelo levantamento, os bancos tradicionais ampliaram a base de clientes em 6% entre o segundo e o terceiro trimestre do ano, menos da metade das novas instituições, que aumentaram em 17% o número de usuários.


Para Ricardo Rocha, professor de finanças do Insper, o crescimento do número de instituições financeiras, especialmente fintechs e bancos digitais, tem alto potencial de desconcentração bancária.


“Acho que esse movimento não tem relação com a pandemia, ele já ocorreria de qualquer maneira. O BC tem atuado para diminuir a concentração bancária no país. Como a entrada de bancos estrangeiros é complicada, a solução foi viabilizar outros modelos de negócio”, diz.


Nos últimos anos, com a entrada de novas instituições, a concentração bancária caiu. Em 2019, último dado divulgado pela autoridade monetária, as cinco maiores bancos representavam quase 70% do mercado de crédito, incluindo o segmento não bancário (financeiras, fintechs e cooperativas, por exemplo). Em 2016, o grupo tinha 74,3% da carteira total.


Os maiores bancos do país são Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica, Itaú e Santander. Quando se considera só segmento bancário, os cinco concentram 80,7% do mercado de crédito —a fatia chegou a ser de 83,4% em 2016.

O grupo também acumula a maior parte dos depósitos de clientes (conta-corrente), com 77,6% de todo o sistema financeiro, e 82,3% na comparação somente entre bancos.

Fonte: Folha

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