Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, comparou Open Banking à internet e ressaltou que conceito é um processo
“O Open Banking está para o sistema financeiro assim como a internet está para a sociedade”. Foi assim que Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central (BC), definiu a chegada do Open Banking no Brasil, durante live promovida pela autoridade monetária nesta segunda-feira (1º).
A data marca o início da primeira fase do Open Banking, novo conjunto de regras e tecnologias que vai permitir o compartilhamento de dados e serviços de clientes entre bancos e outras instituições financeiras, por meio da integração de seus respectivos sistemas – mas sempre com o consentimento do usuário.
“Com o Open Banking, o Banco Central busca aumentar a eficiência e a competitividade no sistema financeiro nacional, mediante a promoção de um ambiente de negócio mais inclusivo, preservando sua segurança e a proteção dos consumidores”, disse o presidente.
Mais efeitos no longo prazo
A expectativa do BC com a implementação do conceito é grande e, segundo ele, tem potencial para transformar o mercado financeiro. Porém, Campos Neto reforçou que a chegada do Open Banking é um processo e que “os benefícios e casos de uso serão visíveis ao longo dos próximos meses e anos.”
Isso porque esta primeira etapa será a base para as próximas e, por enquanto, nada muda no dia a dia do consumidor. O objetivo é que as instituições participantes compartilhem entre si, sob supervisão do BC, suas prateleiras de produtos, serviços e taxas disponíveis, além de informações sobre o seu atendimento, com os horários de funcionamento e os canais usados para atender clientes, por exemplo.
As informações sensíveis de clientes, como dados cadastrais e financeiros, só poderão ser compartilhados a partir da segunda fase, marcada para julho deste ano. “É importante ter em mente que a disponibilização de dados por parte dos consumidores gera um valor para as instituições financeiras, em termos de informação. Com a implementação do open banking, uma parte desse benefício será revertido para quem disponibiliza os dados, ou seja, para os próprios consumidores”, ressaltou Campos Neto.
As informações compartilhadas a partir de hoje entre as instituições e ao público já são públicas, mas estarão organizadas e padronizadas. Como nenhum dado específico do cliente será divulgado, sua autorização não é necessária, por enquanto.
Inclusive, de acordo com um relatório do Bradesco BBI, essa primeira fase “deve ter pouco ou quase nenhum impacto na vida dos clientes“. “A expectativa é que o novo sistema de compartilhamento de dados comece a criar alguns efeitos assim que os dados efetivos do consumidor forem compartilhados [na segunda fase, em julho] e/ou quando o início dos pagamentos estiver disponível [na terceira fase, em agosto]”, diz o texto.
Ainda, o relatório destaca a implementação da terceira fase. “Uma das funcionalidades mais interessantes refere-se ao iniciador de pagamentos, que deverá estar disponível em agosto. Isso permitirá que os pagamentos ou transferências via Pix sejam feitos a partir de qualquer aplicativo e não apenas por meio dos canais oferecidos pela instituição na qual a conta é mantida. Ou seja, os clientes poderão utilizar apps para fazer transferências e pagamentos diferentes dos oferecidos pelas instituições onde possuem contas”, diz o texto.
Nesse cenário, seria possível iniciar um Pix por meio do WhatsApp – que deve ser aprovado pelo BC como um iniciador de pagamentos.
“Esta pode ser a única funcionalidade com efeitos eficazes no curto prazo. Todos os outros, em nossa opinião, devem criar algum tipo de impacto em um prazo mais longo. Portanto, continuamos a ver o Open Banking criando implicações mais concretas para a concorrência apenas dentro de alguns anos“, diz o relatório.
Durante o evento de abertura do Open Banking, executivos do BC adiantaram algumas partes sobre o funcionamento do ecossistema daqui para a frente.
Usuário no controle e ofertas customizadas Um dos principais pilares do Open Banking é que qualquer compartilhamento de informação exige a autorização do usuário. Assim, o consumidor terá total autonomia para decidir se quer ou não compartilhar um dado pessoal com um banco ou fintech no qual não tem conta, por exemplo.
Apesar de a segunda fase começar apenas em 15 de julho, durante a live Ísis Galote, representante do Grupo de Trabalho de Experiência do Usuário, que compõe a Estrutura Inicial de Governança do Open Banking Brasil, destacou a lógica que os consumidores vão encontrar quando quiserem fazer o compartilhamento – a partir da segunda fase.
“Os dados poderão ser compartilhados nos canais digitais das instituições. Como vai funcionar: o consumidor vai escolher a instituição em que os dados devem ser buscados, quais dados, e até quando o compartilhamento vai acontecer. A instituição recebedora vai falar exatamente para que vai usar os dados. Se o consumidor optou por autorizar o uso dos dados para um determinado produto, esses dados não poderão ser usados para uma comunicação de uma novidade do banco, por exemplo”, disse Ísis.
Ela lembra que o prazo máximo de compartilhamento de informações é de um ano, mas que o usuário tem total liberdade para cancelar a autorização quando quiser. “Se você autorizar o compartilhamento de dados por um ano e depois de uma semana mudar de ideia, não tem problema”, explica.
Ainda, Ísis afirmou que uma das maiores vantagens do Open Banking para os usuários é a possibilidade de acessar produtos personalizados e com melhor custo-benefício. “Ao compartilhar os dados, a instituição terá acesso , Com base no seu histórico, o banco consegue saber com mais detalhes da vida do consumidor e poderá oferecer produtos mais adequados à situação da pessoa naquele momento. Sabendo mais informações das pessoas, será possível oferecer produtos customizados”, explica.
Hoje, essas informações estão em posse dos bancos nos quais os clientes têm conta. Outras instituições financeiras não têm acesso aos dados de quem não é seu cliente. Portanto, não conseguem analisar o risco envolvido nas operações bancárias, saber se o consumidor é ou não um bom pagador e nem oferecer menores taxas de juros para empréstimos, por exemplo.
Segurança
João André Pereira, o chefe do departamento de regulação do sistema financeiro do Banco Central, afirmou, também durante a live, que o Open Banking representará a implementação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) dentro do sistema financeiro. Além disso, ele garantiu que o ecossistema do Open Banking funcionará sob lei do sigilo bancário.
Vale lembrar que as instituições participantes do Open Banking precisam ser reguladas, autorizadas e supervisionadas pelo Banco Central e estão sujeitas à punições.
Fonte: Infomoney
Comments