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Médica aponta que número de infectados por coronavírus pode ser 4 vezes maior

Infectologista de Sorocaba diz que essa distorção se deve à subnotificação


A pergunta mais recorrente durante a quarentena é justamente quando ela acabará. A infectologista sorocabana Naihma Salum Fontana conta que sempre recebe esse questionamento, mas lamenta a falta de uma resposta certeira. “Somente poderíamos ter uma projeção próxima da realidade se estivéssemos testando todo mundo, mas somente casos moderados e graves fazem o teste”, explicou.

A especialista lembra que, conforme apontam estudos, 80% dos indivíduos que contraem o vírus apresentam sintomas leves ou são assintomáticos e não são internados. “Podemos prever que nosso número de casos seja quatro vezes maior devido a subnotificação”, apontou a médica.

Enquanto os casos crescem dia a dia, as medidas de isolamento passam por relaxamento e segundo a perspectiva médica, a combinação é perigosa. “Já somos o 6º país em número absoluto de mortes e o 2º em número de casos. Isso só tende a aumentar”, alertou. Naihma lembra que o Brasil instituiu de forma precoce as medidas de isolamento social, mas nunca chegou ao nível satisfatório de 70%.

Conforme a infectologista, além da sub-notificação ocorrer pela falta de testes, ela destaca a demora para os resultados. “Os testes de PCR levam de dois a dez dias para serem liberados na rede pública, pelo Instituto Adolfo Lutz, o que causa um atraso e torna inviável prever em que patamar de contágio nós estamos”, afirmou. A médica, porém, lembra que felizmente o Ministério da Saúde adquiriu 46 milhões de testes rápidos para inquérito epidemiológico, justamente na tentativa de estimar a real situação do País. Questionada sobre a possibilidade de a população já estar próxima da chamada “imunização de rebanho”, Naihma acredita que ainda não se chegou a esse ponto. “O pico da curva é alcançado quando metade da população já foi exposta ao vírus, e ainda não estamos perto disso”, afirmou sobre Sorocaba. A “imunidade de rebanho”, explica, é um conceito aplicado em vacinologia que diz que, supostamente, a exposição ao vírus em massa dos indivíduos suscetíveis tornaria a população imune. No entanto, afirma, em relação ao novo coronavírus, estudos tem mostrado que não se pode ter essa certeza. Conforme a médica, a presença dos anticorpos IgG (utilizados nos testes rápidos) não significa imunidade protetora e permanente. “Muito mais que níveis satisfatórios de anticorpos, é fundamental que ele seja funcional”, afirma. Naihma lembra que pesquisas com pacientes graves que se recuperaram mostram que o indivíduo apresenta 90% de anticorpos funcionais. Porém, aponta, no paciente com apresentação leve e moderada, os anticorpos funcionais ficam somente entre 20 e 30%. “Considerando que a grande maioria dos indivíduos terão apresentação leve, uma infecção prévia leve/moderada ou assintomática não significa imunidade protetora, mesmo com a presença de IgG no teste rápido”, explica. Sendo assim, conclui a infectologista, a imunidade vacinal será essencial para, de fato, proteger contra novas ondas de reinfecção. Segundo Naihma, não há, até o momento, tratamento específico comprovadamente eficaz contra a Covid-19. Ela destaca, porém, que um estudo norte-americano, lançado no dia 20 de maio, mostra resultados promissores com o uso precoce de corticosteroides. “Vários estudos mostraram a ineficácia da hidroxicloroquina e outras drogas têm estudo em andamento, como o Remdesivir e Tocilizumab”, disse. A única medida que se mostrou eficaz em outros países até o momento, afirma a infectologista, foi o distanciamento social e medidas individuais de higiene pessoal e etiqueta respiratória. “No início da pandemia, eu havia predito que o principal desafio para o nosso país seria fornecer esse tipo de educação, tão ausente em diversos ramos da população, e nortear nosso povo com o conceito de sociedade, de coletivo, de solidariedade”, destacou. De acordo com a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), o tratamento “padrão” para a Covid-19 consiste em duas frentes. Para casos leves e moderados é recomendado apenas o uso de analgésicos e antipiréticos. Já os casos graves e críticos, além das medicações sintomáticas, a entidades destaca o uso oxigenioterapia, anticoagulante profilático, tratamento das doenças crônicas associadas e tratamento das complicações da doença.


Cruzeiro do Sul


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