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Foto do escritorSindicato dos Bancários

Fim do auxílio emergencial e vencimento de dívidas devem elevar inadimplência

Ambiente macroeconômico também pode aumentar taxas de juros, afirmam executivos


O fim do auxílio emergencial e o vencimento do pagamento de programas de crédito do governo– implementados neste ano para conter os impactos do coronavírus– devem refletir em uma alta da inadimplência a partir de abril, avaliam executivos do setor bancário.

Somado ao ambiente de incerteza fiscal e diante do cenário macroeconômico, a expectativa do mercado é de um ajuste nas taxas de juros —para cima— na ponta consumidora.

“Acreditamos que haverá um aumento da inadimplência entre o segundo e o terceiro trimestres de 2021. Mas a tendência é que o nível de calote continue controlado, uma vez que agora ele se encontra em patamares menores do que os registrados no período pré-pandemia”, afirmou Romero Albuquerque, diretor de crédito imobiliário do Bradesco.

O crescimento esperado para o mercado de crédito —que é de 8% a 9% para 2021— também deve ter impactos na inadimplência. Segundo Albuquerque, o Bradesco tem uma projeção um pouco mais agressiva de crescimento para o mercado, de 9% a 11%.

Parte do controle nos níveis de calotes em 2020 vem do crédito mais restrito no início da pandemia. Empresas de menor porte relataram, ao longo dos últimos meses, dificuldades em conseguir empréstimos. Em setembro, levantamento do Simpi (Sindicato da Micro e Pequena Indústria) apontou que 8 em cada 10 micro e pequenas indústrias afirmaram não ter acesso ao crédito, por exemplo.

Além disso, as medidas emergenciais do governo e dos bancos também limitaram o aumento da inadimplência. No início do ano, as instituições financeiras passaram a negociar e prorrogar dívidas de empresas e pessoas físicas afetadas pela crise do coronavírus. As negociações chegavam a dar 180 dias de carência em algumas instituições.

Para o superintendente de negócios do Sicoob, Luciano Ribeiro, o ambiente de fim do auxílio emergencial e o vencimento dos programas para o combate dos efeitos econômicos da pandemia do novo coronavírus coincidem com um período de orçamento mais apertado.

“Muitas contas pessoais, como o IPVA [Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores] e o IPTU [Imposto Predial e Territorial Urbano], pressionam o bolso dos consumidores [no início do ano]. Além disso, diante do atual cenário macroeconômico, os credores tendem a precificar algumas linhas de forma pós-fixada, ou focar em linhas com garantias, o que sinaliza certa precaução, e pode refletir nos juros na ponta”, afirmou.

Os últimos dados do Banco Central, de outubro, apontam que as concessões totais de crédito atingiram R$ 196,7 bilhões no sistema financeiro, aumento de apenas 0,34% em relação a igual mês de 2019.

A inadimplência no período ficou em 2,4% no mês, recuo de 0,6 ponto percentual na mesma base de comparação. Os juros totais do mercado alcançaram 18,7% ao ano, queda de 4,8 pontos percentuais na mesma relação.

“A falta de previsibilidade sobre o que pode acontecer no ambiente macroeconômico deve trazer volatilidade nos preços de crédito. Há a possibilidade de uma pressão inflacionária e nos juros, além de toda uma discussão de temas fiscais. Prevemos alguma volatilidade, mas ainda em patamares confortáveis para a concessão de crédito”, disse o diretor de produtos de crédito do Santander, Cássio Schmitt.

Ainda segundo dados do Banco Central, os juros médios dos empréstimos feitos em outubro atingiram 18,7% neste ano —número 4,8 pontos percentuais menor do que o registrado em igual mês de 2019, quando estavam em 23,5%.

Para Albuquerque do Bradesco, os eventos macroeconômicos ainda são pontos de atenção.

“Logicamente, se nenhum desses problemas for endereçado, a tendência é de alta da Selic. Se isso acontece, é natural que haja uma calibrada das taxas para cima. Isso diminui a porcentagem das famílias elegíveis para grandes financiamentos, como o crédito imobiliário. É preciso cautela e uma atitude acertada do governo para trazer um ambiente mais favorável ao mercado de crédito”, afirmou.

Segundo o assessor econômico da FecomerciosP (Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado de São Paulo), André Sacconato, no entanto, o mercado está bastante otimista, uma vez que a tendência é que a demanda por financiamentos e pelo consumo tende a voltar.

“Muita gente perdeu o emprego, mas muitas pessoas também evitaram gastar ao longo deste ano, o que abre espaço para crescimento. Devemos ter uma onda de manutenção no começo do ano, mas a expectativa é de uma retomada do mercado de crédito”, afirmou Sacconato.


Folha de SP

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