Emprego formal cresce no mesmo ritmo lerdo desde setembro do ano passado
O emprego com carteira assinada teve o melhor agosto desde 2014, a gente lia por aí na quarta-feira (25), quando saiu o balanço do emprego formal, do Ministério da Economia. É uma conversa fiada, embora se possa ver ali ou aqui algum sinal de pequena melhora, como no crédito e na construção de casas.
Quanto ao emprego, a coisa vai de pior a mal. O número de empregos formais havia voltado a crescer em janeiro de 2018, saindo das profundas dos infernos da Grande Recessão. Desde setembro do ano passado, cresce ao mesmo ritmo lerdo, em torno de 1,4% ao ano, compatível com um crescimento do PIB mais ou menos de 1% ao ano, o que temos visto desde 2017.
Nada disso presta. Presta ainda menos se lembrarmos que parte desses novos empregos formais são precários (intermitentes e temporários). Não entravam na conta de 2014.
Nessa toada de criação de vagas de trabalho com CLT, o país voltaria a ter o número recorde de empregos com carteira de 2014 apenas em 2023, o que ainda seria insuficiente, pois a população querendo trabalhar terá crescido muito. Além do mais, sabe-se lá o que chamaremos de “emprego formal” ou “com carteira” em 2023 —ou mesmo o que chamaremos de “emprego”.
O ritmo de criação de emprego formal não acelera porque a indústria voltou a emperrar em outubro do ano passado. As fábricas de calçados, papel, material de transporte, têxtil, vestuário, madeira, móveis etc. estão empregando menos que em 2018. O avanço da economia em geral depende principalmente de melhoras na indústria de transformação.
Em resumo, é o caso de esquecer essa festinha com os números de emprego formal. É conversa mole, por ora.
Nem tudo é estagnação, porém. O total de dinheiro emprestado (estoque de crédito) para pessoas físicas cresce ao ritmo de mais de 7% ao ano, em termos reais (já descontada a inflação). O estoque de “crédito livre” (que os bancos emprestam sem regras determinadas pelo governo), cresce mais de 8% ao ano. Nem de longe são números deprimidos —ao contrário.
É verdade que o crédito total aumenta apenas a 1,7% ao ano, pois os bancos públicos, o BNDES em particular, estão sendo enxugados.
O bancão estatal de desenvolvimento já chegou a ter emprestado o equivalente a 11% do PIB e 21% do total do crédito bancário. Agora, empresta 6,5% do PIB, pouco menos de 14% do estoque de crédito dos bancos. No entanto, em grande parte esse desmonte dos bancos públicos vem sendo compensado pelo financiamento via mercado de capitais (de emissão de dívida privada e créditos de outras fontes).
No caso das pessoas físicas, o total de empréstimos em relação ao PIB já é maior do que o registrado nos recordes de 2014. Sim, é verdade que o PIB diminuiu, mas mesmo assim há mais dinheiro emprestado, em termos absolutos. Seja como for, falta mais PIB do que crédito. Mesmo que os bancos ainda enfiem a faca, com spreads escandalosamente em alta, há gente pedindo e recebendo empréstimos.
Convém dizer também que a composição do aumento do crédito para pessoas físicas não é lá muito boa —o dinheiro emprestado para financiamento imobiliário poderia estar crescendo muito mais; para a compra de veículos, algo mais. Olhando o conjunto dos números, parece que estamos vendo alguém que voltou a andar depois de passar muito tempo se curando das fraturas múltiplas de um atropelamento horrível. Mas algo se move, anda, no crédito.
Falta mesmo é emprego, é salário, na média estagnado faz meses.
Vinicius Torres Freire
Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).
Folha de SP