Ampliação do home office dá caráter colaborativo ao momento presencial
Satisfeitas com o home office adotado durante a pandemia, as empresas planejam tornar a modalidade permanente mesmo com a superação da crise sanitária atual, num modelo híbrido em que o trabalho em casa e o no escritório se complementam.
A Infosys, por exemplo, não vai renovar o contrato de locação de um andar de seu escritório na região da av. Berrini, na zona sul de São Paulo. O plano agora é ficar apenas com um, pensando que não será mais necessário todo o quadro de funcionários trabalhar presencialmente ao mesmo tempo.
A tendência é global. Um levantamento feito pela Reuters com base nos balanços divulgados recentemente observou que mais de 25 companhias pretendem reduzir o tamanho de seus escritórios no próximo ano.
Por enquanto, o momento entre as empresas brasileiras ainda é de reavaliação, afirma Rafael Camargo, gerente sênior de real estate da Deloitte. Ele afirma que ainda não vê essa tendência no Brasil, mas casos mais pontuais de ajuste tendo em vista as pressões financeiras.
"É uma mudança gradual, em que as empresas não vão se precipitar. As grandes, principalmente, não vão tomar decisões muito agressivas de redução de espaço", afirma.
Pesquisa nacional feita pela KPMG com 722 empresários indica que a maioria (56,9%) pretende manter o espaço ocupado atualmente —4,2% incluive pensam em aumentar. Entre os que pretendem reduzir, a maior parte fala em um encolhimento entre 16% e 30% da ocupação atual.
REFORMULAÇÃO PARA O COLABORATIVO
Mais que redução, a tendência atual é de reformulação dos escritórios, diz Camargo. Pensando no médio e longo prazo, com a consolidação de um modelo híbrido de trabalho em que home office e escritório se complementam, a ideia é que esse último seja voltado para priorizar atividades colaborativas, já que as tarefas individuais poderão ser feitas em casa.
Há duas semanas a Hughes começou a conversar com escritórios de arquitetura sobre um novo projeto para seu espaço. “Entendemos que o escritório passa a ser um ambiente voltado para a colaboração, o trabalho em equipe. Estamos conversando com os arquitetos para entender o que ele será pós-pandemia”, diz a diretora de RH, Valéria Motta.
O escritório de arquitetura Athié Wohnrath tem sido procurado para projetos de reforma com esse objetivo, embora ainda sejam em menor número do que os feitos para adaptação de curto prazo —30 até agora.
“O novo escritório pós-pandemia vai ter bem menos estações de trabalho, que não serão identificadas. Todos os espaços deverão ser agendáveis, trazendo a pontualidade do mundo virtual para o físico. Considerando que teremos um grande número de reuniões mistas, com um grupo presente e outro remoto, temos que trazer tecnologias para melhorar essa interface”, afirma Sérgio Athié, sócio-fundador e arquiteto chefe do escritório.
A preocupação com saúde também foi incorporada de modo definitivo. Segundo Athié, todos os novos projetos trabalham com luzes automáticas e torneiras de ativação por sensor, por exemplo.
A tendência de escritórios mais abertos é reforçada a partir da conjuntura atual, mas incluindo também maior flexibilidade nas funções dos espaços, num modelo semelhante ao adotado por coworkings, avalia o professor da Fundação Dom Cabral Paulo Almeida.
“Além de cortar custos, a ideia é valorizar os momentos de interação que não podem ser feitos remotamente”, diz Almeida.
Folha de SP
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