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Foto do escritorSindicato dos Bancários

Empresas reformulam escritórios para retomada do trabalho presencial

Planos incluem medição de temperatura, corredores de mão única e reorganização de todo o layout do espaço


A volta ao escritório vai envolver muitas máscaras, poucos banheiros, questionários de sintomas, termômetros e algum tempo encarando a parede do elevador. Até o surgimento de uma vacina para o novo coronavírus, essa deve ser a nova rotina da firma.

Em preparação para o retorno dos trabalhadores, escritórios passaram por uma série de modificações nas últimas semanas. Alguns retomaram as atividades em meados de julho, mas a maior parte (34,9%) pretende voltar entre setembro e dezembro, segundo pesquisa da KPMG.

O levantamento, feito com 722 empresários de todo o Brasil, aponta que o uso de máscara é a medida mais frequente de controle de acesso aos escritórios: 91,5% dos respondentes afirmam que ela será obrigatória.

Medição de temperatura e aplicação de questionário sobre as condições de saúde vêm em seguida, elencadas por 64,8% e 49,7% dos respondentes, respectivamente.

Os planos de retorno das empresas são divididos em fases: numa primeira, são priorizados quem não precisa usar transporte público, não tem crianças em idade escolar e não convive com pessoas do grupo de risco. Algumas empresas, como a P&G e a RaiaDrogasil, optaram por começar pelos cargos de chefia.

A partir da observação dessa fase de teste, será liberado o retorno das equipes. Ainda assim, a ocupação máxima ao final desse processo não deve ultrapassar 50% do escritório.

A decisão de voltar agora, apesar do país ter superado no sábado (8) as 100 mil mortes pela doença, é justificada pela preocupação com a retomada dos ambientes de interação e para oferecer uma opção para quem está tendo dificuldades com o home office.

“Embora a atividade remota funcione muito bem, para fortalecer a cultura corporativa e propiciar a inovação, a interação física tem a sua importância. Não podemos prescindir disso por um ano, um ano e meio”, afirma Leopoldo Horle, presidente da Ingredion, multinacional de ingredientes para a indústria alimentícia.

Já na Hughes, empresa de banda larga via satélite, o escritório foi reaberto para quem precisa dar um tempo de casa. Na primeira semana de retorno, em julho, apenas 5 dos 160 funcionários que trabalham na unidade da avenida Faria Lima (zona oeste de São Paulo) foram ao espaço.

“Como temos muitos protocolos, uso obrigatório de máscara o tempo todo, tivemos um número muito baixo”, afirma diretora de RH, Valéria Motta.

Além das normas estabelecidas pelo governo federal, estados e municípios, entre as filiais de multinacionais ainda é necessário alinhar os planos com as diretrizes da matriz.

A Kimberly-Clark mapeou no Brasil até o momento 120 protocolos diferentes para a reabertura do escritório, segundo Alessandra Morisson, diretora de RH da filial brasileira. A empresa optou por permanecer em home office por enquanto. Na América Latina, apenas o escritório no Uruguai retomou as atividades.

“O governo federal não está fazendo um bom trabalho de avaliação de risco e produção de material, deixando a cargo de estados e municípios. Temos todo tipo de normatização, o que é ruim porque em vez de seguir um parâmetro técnico bem elaborado, acaba ficando muito heterogêneo e gerando confusão. O Ministério da Saúde está muito omisso nas ações de proteção à saúde coletiva”, avalia o médico do Ministério Público do Trabalho Elver Moronte.

Desde meados de julho a Omint Saúde e Seguros vem sendo procurada por empresas clientes para auxiliar no alinhamento de todas as normas diferentes para formular um plano de retomada. A seguradora tem feito em média três visitas técnicas e cinco lives com funcionários por semana para explicar os novos procedimentos.

NOVO LAYOUT

As empresas têm feito uma série de adaptações para reduzir os riscos de contaminação. O layout das mesas foi alterado para criar uma distância entre elas de 2 m, em média, e quem não trabalhava mais com lugares fixos voltou atrás.

O limite de capacidade de elevadores foi reduzido e sinalizações foram feitas para evitar que os ocupantes fiquem frente a frente. Aquele momento em que você cruza com um colega no corredor pela centésima vez no dia sem saber muito bem como reagir também acabou: pelas novas regras de circulação, corredores viraram vias de mão única.

Novas tecnologias foram adotadas para reduzir o máximo possível o contato com superfícies, como a instalação de luzes que se acendem automaticamente e torneiras que funcionam por sensor. Mais equipamentos para videoconferências foram adquiridos, prevendo que esse formato de reunião veio para ficar.

Na P&G, uma espécie de chaveiro será distribuído aos funcionários para acionar o botão do elevador e abrir maçanetas, evitando o contato direto com as superfícies.

O buffet nos refeitórios acabou, substituído pela entrega de marmitas prontas. Cadeiras foram retiradas para evitar proximidade e aumentaram as opções para armazenar e esquentar a própria comida. Cabines nos banheiros também foram interditadas de modo intercalado.

Uma nova burocracia foi pensada para reduzir o risco de contaminação: antes mesmo de sair de casa, os funcionários precisam responder a um questionário sobre sintomas de Covid-19 ou uma exposição recente ao vírus, como viagens.

Na consultoria de TI Infosys, por exemplo, os funcionários precisam responder um questionário via aplicativo antes de ir ao escritório sobre sintomas da doença e exposição a situações de risco de contaminação. Apenas após liberação do gestor eles podem ir ao escritório, diz o diretor João Galdino.

Em caso de suspeita ou diagnóstico da doença, as empresas têm adotado um plano para afastar o funcionário e todos os seus contatos no escritório são rastreados para saber quem mais pode ter se contaminado.

CONDOMÍNIOS

Um desafio é alinhar as medidas com os condomínios de escritórios, o que demanda reuniões com a administração e outras empresas que compartilham o espaço. Segundo Fernando Akio, da área de RH da P&G, houve resistência por parte do condomínio em um primeiro momento de adotar medição de temperatura na entrada do prédio, por exemplo.

“Nós conseguimos essa conquista para que houvesse marcação no chão do elevador para as pessoas saberem a posição e o sentido em que ficar, sem ficar ninguém frente a frente. Com o tempo o condomínio foi vendo que essas medidas tinham coerência e outros condôminos foram adotando as mesmas regras que nós”, afirma Akio.

Toda a readaptação exigiu novos investimentos das empresas, em parte proporcionados pela realocação de economias feitas com redução de despesas com energia e transporte durante o período de home office.

“Operar ficou mais caro. Cumprir todos os protocolos, adequar e redimensionar a estrutura, criar condições dentro e fora das instalações… Tudo isso custa”, afirma Maria Susana de Souza, vice-presidente de Gente e Cultura da Raia Drogasil.

Folha de SP

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