Estima-se que, em 2019, os bancos brasileiros ganharam R$ 2,2 bilhões em processamento de TED/DOC, cerca de R$ 5 bilhões em emissão de boletos e algo ao redor de R$ 35 bilhões em taxas de manutenção de conta corrente. O PIX e o open banking podem mudar isso
Não é novidade que o PIX, sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central, será lançado em novembro e terá um forte impacto no setor bancário. Transferir dinheiro será tão simples como mandar uma mensagem pelo celular. Mas por que o BC resolveu colocar esse sistema no ar?
O Banco Central do Brasil criou o PIX pautado em claros pilares: disponibilidade (24/7), velocidade (liquidação em segundos), conveniência (experiência focada no usuário), segurança, multiplicidade de casos de uso (transferências e pagamentos de qualquer tipo e valor entre pessoas e/ou empresas). Isso tudo, com o objetivo de trazer eficiência para o mercado, competição e dar mais acesso.
E quem será impactado pelo PIX? Como? Todos podemos ser impactados. Bancos, bandeiras de cartão, adquirentes, empresas, estabelecimentos comerciais, consumidores, a nossa cultura em relação ao uso de dinheiro, fintechs, startups, e por aí vai. As cadeias impactadas são complexas e é possível escrever um longo livro sobre isso, entretanto esse não é o objetivo aqui. Portanto vamos simplificar o entendimento e analisar alguns dos pontos apresentados.
Segundo relatório do Morgan Stanley, estima-se que, em 2019, os bancos brasileiros ganharam R$ 2,2 bilhões em processamento de TED/DOC, cerca de R$ 5 bilhões em emissão de boletos e algo ao redor de R$ 35 bilhões em taxas de manutenção de conta corrente.
Tudo indica que o PIX poderá executar serviço de transferência similar a TED/DOC, com menor custo. O mesmo pode ocorrer com os boletos. Com a queda das tarifas, observa-se a intensificação dos consumidores dispostos a pagar menos em taxas de manutenção.
É possível afirmar pouco como o PIX irá impactar bandeiras e adquirentes. Pode haver queda de volume de transações de débito por uma substituição pelo PIX, mas aqui existe uma mudança de cultura necessária, a qual pode ser rápida ou levar anos.
Nas transações de cartões de crédito, quase nada se ouve sobre ameaças do PIX às bandeiras, mas se fintechs e bancos criarem produtos que contenham funcionalidades similares às do cartão de crédito, gerando custo menor ao lojista e valor percebido equivalente ao usuário, podemos vir a observar o PIX impactando os volumes transacionados. O MDR (a taxa de desconto das maquininhas) e as taxas das bandeiras de cartões podem mudar e isso pode ajudar muito os estabelecimentos comerciais e consumidores.
Para as empresas recebedoras de transações, caso realmente se confirme que o PIX é mais barato e prático que o uso de TED/DOC/boleto/maquininha, podemos observar o surgimento de novos processos focados em melhores margens, maior competitividade e preços mais atraentes para os seus consumidores.
Além disso, para empresas que têm um grande volume de transações que não são realizadas com cartão (empresas de frete, pedágio, etc.), pode ser uma maneira de melhorar a experiência do usuário e/ou garantir a liquidez de uma cadeia inteira de maneira ágil e simples, gerando eficiência operacional, financeira e novas oportunidades.
Para aquelas empresas que têm usuários que se relacionam digitalmente (mobile ou desk) como fabricantes de eletrônicos, softwares e portais/marketplaces, o PIX pode significar uma chance de estreitar o relacionamento com clientes trazendo conveniência e até nova fonte de receita.
“Como tudo que é novo, quem se adaptar rapidamente, terá maior probabilidade de conseguir capturar as oportunidades que surgirão com o PIX”
Como tudo que é novo, quem se adaptar rapidamente, terá maior probabilidade de conseguir capturar as oportunidades que surgirão com o PIX, sendo as fintechs e startups bons exemplos das empresas que podem aproveitar essas oportunidades.
Por exemplo, o PIX vai dar a oportunidade de uma startup de nicho viabilizar, de maneira clara, segura e menos onerosa, para seus clientes efetuarem os pagamentos necessários dentro do ambiente que estão inseridos, proporcionando uma experiência única ao usuário.
Com tantas mudanças potenciais, como ficamos nós consumidores? Segundo a pesquisa da Boanerges & Cia, estima-se que em 2020 teremos 29% dos pagamentos dos consumidores feito em dinheiro e em 2030 cerca de 15%. Ou seja, um volume 50% de numerário, o que para nós brasileiros significa maior segurança dado o alto número de incidentes relacionados a transporte de valores, agências e caixas eletrônicos.
E mais do que isso, se pensarmos que agora grande parte dos desbancarizados acabaram baixando o aplicativo da Caixa para receber o auxílio emergência, podemos ter uma ajuda nesta bancarização relâmpago ao facilitar o uso dos pagamentos instantâneos.
Do ponto de vista de segurança, transparência e facilidade, o Banco Central do Brasil vem mostrando que o PIX garantirá os mais altos padrões para nós consumidores do sistema usarmos sem nos preocupar. Isso pode levar a alta adesão do sistema.
A ativação do PIX é algo que precisamos ver como culturalmente o brasileiro vai aceitar e mudar seus hábitos. Os brasileiros são early adopters em tudo que é digital, gera conveniência ou uma boa experiencia (exemplos: 3º mercado mundial da Uber, 1º do Waze depois do EUA e Netflix já tem mais assinantes do que a Sky/DirecTV são exemplos disso), entretanto quando o assunto é dinheiro temos experiências um pouco diferente. Somente em 2019 o brasileiro passou a ter um percentual de consumo por cartão maior do que o por dinheiro.
Por fim, há muitas hipóteses a serem comprovadas ainda e um cronograma de implantação a ser cumprido para entender como o PIX vai afetar as nossas vidas. Em um mundo conectado e focado no cliente, torcemos para nos beneficiar com o advento de um meio de pagamento eficiente, transparente e seguro sendo utilizado de maneira a gerar valor.
Se a pergunta é quem vai ser o grande vencedor, definitivamente nós consumidores e as empresas que aproveitarem o PIX a gerar valor para os seus clientes (no fim do dia, o meio é comum e o diferencial está na geração e percepção de valor).
*Daniel Corrêa de Miranda, é Head de Negócios e Estratégia na Add, uma empresa de BaaS focada em bancarização de processos, projetos de modernização e digitalização financeira.
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