Caderneta apresenta maior captação líquida dos últimos anos, mas afinal, o que isso nos mostra?
O ano de 2020 trouxe inúmeros aprendizados, desde o cuidado com a saúde, a atenção para si e para o outro até o olhar mais atento para as finanças.
Um ano no qual muitos brasileiros perderam sua principal fonte de renda e outros viram seus investimentos derreterem nos frequentes circuit breakers vividos em março.
Passados nove meses desde o início do distanciamento social e do pânico dos mercados, os números mostram captação líquida recorde na poupança.
Há quem critique tamanha cifra em um produto que, atualmente, não entrega nem ao menos a inflação (considerando aplicações realizadas após maio de 2012). Entretanto, ao entender o contexto e o histórico dos brasileiros, alguns aprendizados podem ser encontrados nestes números, comportamento bastante divergente daquele visto antes da pandemia, quando a captação líquida era negativa.
Os motivos podem ser vários; desde o consumo que caiu nas lojas presenciais devido ao distanciamento social até as famílias que, ao verem um dos membros perdendo seu emprego, revisitaram seus orçamentos e reduziram despesas consideradas não essenciais para passar pela incerteza com alguma reserva. Sem contar, ainda, com o grande número de brasileiros que está na ponta devedora e apertou ainda mais os cintos neste momento.
O primeiro aspecto a ser considerado, inclusive ratificado por pesquisas de letramento financeiro, é que os seres humanos têm dificuldades para identificar e mensurar riscos. E, no mercado financeiro, muitos produtos ainda apresentam riscos difíceis de serem entendidos por boa parte da população.
Exemplo disso é o caso do Tesouro Selic, que apresentou rentabilidade negativa em setembro e acabou assustando alguns novos investidores. Assim, estes acabam escolhendo o produto que lhes representa o porto seguro, ainda que o que esteja sendo comparado, neste caso, seja apenas a rentabilidade nominal entre os produtos num curto espaço de tempo.
O segundo aspecto é a busca por segurança em momentos de incerteza e a poupança, por ser um produto já bastante familiar, acaba sendo a escolha preferida.
É necessário lembrar que, dentre os comportamentos relacionados ao dinheiro, há o fazer, o poupar, o investir e o gastar. Assim, ainda que o poupar esteja relacionado ao ato de poupança e não ao produto em si, o fato de os brasileiros estarem poupando, ainda que com o uso da poupança, é um indicativo de maior cuidado com suas finanças.
Ainda temos um longo caminho para a educação financeira no Brasil, porém, passos estão sendo dados em direção ao cuidado com o futuro e este sim é um motivo para comemorar.
As intempéries deste ano trouxeram, para muitos, algumas dificuldades financeiras e foi, em momentos como este, que o planejamento financeiro demonstrou, novamente, seu valor para o indivíduo, família e sociedade. Que a captação líquida positiva na poupança possa ser mais um passo na transformação da educação financeira dos brasileiros.
Folha de SP
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