
Com a popularização do acesso digital a serviços bancários e fintechs, a ida à agência é cada vez mais rara. Muitas delas estão fechando as portas e em Sorocaba não é diferente. Atualmente, há 1.600 bancários trabalhando nas 50 agências bancárias espalhadas pela cidade. Em 2018, eram cerca de 100 agências. A redução, portanto, foi de 50% no período de sete anos.
“Um dos ápices da expansão bancária foi nos anos 90, quando as empresas queriam abrir um banco em cada bairro de cada cidade. Eles queriam mais contato com clientes, trazê-los para dentro da realidade bancária”, diz Júlio César Machado, presidente do Sindicato dos Bancários de Sorocaba e região. Essa explosão de agências levou os bancos para onde o povo estava, o que ocasionou também o aumento de funcionários (que nunca mais seriam tão volumosos). De acordo com Machado, a vontade de expansão também atingiu a parte administrativa e os bancos começaram a permitir correspondentes bancários em diversos estabelecimentos comerciais, até mesmo nos mais inusitados. “Eu cheguei a pagar conta até em açougue”, afirma Machado, que cita que havia outros lugares disponíveis, como supermercados e lojas. “Isso já era preocupante, pois caracterizava uma distorção do nosso trabalho de bancário. Passaram isso para comerciantes”, explica, afirmando que nessa época (no final dos anos 90) já ouvia de um grande banqueiro que ele “não queria agência de tijolo”, uma referência aos bancos físicos tradicionais.
O que acabou se tornando realidade décadas depois, com os bancos digitais. De acordo com Machado, ao cobrarem e empurrarem quase tudo por um único pedido ou movimentação — documentos, empréstimos, financiamentos, cheques etc —, os bancos tradicionais foram perdendo terreno de interesse com a desburocratização digital que os novos players do mercado ofereciam, já que não obrigavam o cliente a “comprar” mais do que queriam.
Para João Donizetti de Lima, 68 anos, gerente bancário aposentado, com passagens em Sorocaba, Itapeva e outras cidades, outro ápice se deu nessa época do “boom” digital, por volta de 2015. E esse início se deu “de forma um tanto displicente no início, mas o vertiginoso crescimento das fintechs na pandemia e no pós-Pix (2020) fez (os bancos tradicionais) reagirem”, explica.
“Algumas medidas, como reclamar de concorrência desleal junto aos órgãos reguladores, se mostraram inócuas. Os bancos digitais representam uma nova realidade e os grandes bancos acabaram entendendo isso. O que fizeram foi ‘juntar-se a eles’, reforçando sua atuação no digital, afinal, já possuem elevada expertise e experiência acumulada num mercado difícil como o brasileiro”, afirma Donizetti.
Machado observa que se hoje você entrar em um banco tradicional não vê mais bancário contando dinheiro. “O grande problema dos bancos digitais é que eles não são localizáveis. Não se sabe onde estão. Onde fica a ‘Agência 001’ deles, por exemplo?”, questiona o presidente do sindicato dos bancários.
Para o gerente aposentado, as vantagens de um banco físico sem dúvida residem em contratos de maior valor, como financiamento de imóveis e veículos por exemplo. “A questão dos golpes digitais é outro quesito importante, visto que o cliente se sente mais seguro tendo um atendimento personalizado, em uma agência física, com um funcionário ou gerente”, considera.
O presidente do sindicato dos bancários ressalta que os bancos tornaram a agência bancária somente em uma unidade de negócios, onde não existe movimentação monetária, apenas funcionários que sejam vendedores de produtos. “Se quiser mexer com dinheiro, tem que ir ao caixa automático ou ir para uma agência realmente ‘grande’ para resolver. Eles não querem que os clientes entrem nas agências”.
Donizetti acredita em um futuro híbrido. “Creio que vão todos coexistir, com os exclusivamente digitais atuando em nichos específicos e os grandes bancos se expandindo também nesse segmento. Com o tempo, acredito que muitas fintechs serão incorporadas aos bancos tradicionais.”
Febraban
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) também foi contatada pela reportagem para responder algumas questões a respeito. Sobre as diferenças entre bancos tradicionais e digitais, suas vantagens e desvantagens, a entidade afirma que “não há atualmente um banco que não atue fortemente na arena digital e não há o porquê de falarmos em bancos digitais e dos bancos tradicionais”. De acordo com a entidade, todos estão com seus programas digitais em funcionamento. “O que existe são bancos que também ofertam atendimento presencial, que será cada vez mais consultivo e de negócios. Desta forma, bancos que nasceram em um modelo tradicional de atendimento já são digitais. O grande beneficiado é o cliente, pois é sua experiência como usuário que molda o atendimento de todas essas instituições.”
A Febraban informa que praticamente todas as operações bancárias podem ser feitas de forma eletrônica. “Pelos canais digitais dos bancos é possível fazer pagamentos de contas, transferências, DOCs e TEDs, contratações de crédito, investimentos e aplicações, consultas de saldos e extratos, contratar seguros e planos de previdência, renegociar dívidas, entre outras operações”, afirma, acrescentando que, juntos, os canais digitais (internet banking e mobile banking) concentram quase 8 em cada 10 transações bancárias realizadas no Brasil. E 7 em cada 10 transações bancárias dos brasileiros são feitas pelo celular, consolidando esse meio como o preferido da população para seu relacionamento financeiro. (Tom Rocha - Cruzeiro do Sul)
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