Dentre os 14,4 milhões de brasileiros que estavam desempregados no primeiro trimestre de 2021, segundo dados divulgados pelo IBGE, um grupo amplo de pessoas vive uma dificuldade além da desocupação: driblar os desafios de estar acima dos 40 anos no mercado de trabalho.
Uma pesquisa inédita feita pelo InfoJobs mostrou que 70,4% dos profissionais nessa faixa etária revelaram já ter sofrido preconceito profissional por conta da discriminação de idade. Rosemir Lopes, de 50 anos, faz parte desse grupo e relatou suas dificuldades em conseguir uma recolocação.
“Comecei a buscar trabalho no início da pandemia e nessa fase tudo tem sido pela internet. Mandei currículos para área do comércio, que tenho experiência, mas não tive nenhuma resposta positiva. Algumas empresas questionam a sua idade e perguntam se você tem experiência na função e, quando você respondem, eles não retornam mesmo que você tenha o conhecimento necessário”, contou.
Já aos 50, ela decidiu se qualificar para atuar na área da educação e fez o curso de formação de professor, mas apesar de estar atualizada, Rosemir conta que não conseguiu uma oportunidade.
Coloquei também o currículo em umas quatro escolas, já que tenho o curso de formação de professor, mas como não tenho experiência nessa área, ninguém me chamou. O que tenho percebido é que algumas funções já limitam idade e exigem que você tenha pleno conhecimento de ferramentas digitais e, acho que para minha geração, isso ainda é uma barreira bem grande que precisamos correr atrás e nos atualizar”, concluiu.
Dados que refletem a realidade
Todas essas percepções não são exclusivas da Rosemir. De acordo com o levantamento, 78,5% dos respondentes acreditam que o mercado não dá as mesmas chances para profissionais com mais de 40 anos, quando comparado com os mais jovens. Outros 27,1% acreditam, ainda, que é preciso estar mais atualizado para competir com as novas gerações e 68,4% alegam que muitas vezes nem isso é suficiente para garantir um emprego.
Outro dado que chama atenção é que 61,1% dos profissionais afirmam que o principal desafio profissional é a falta de oportunidade de trabalho, enquanto outras dificuldades não chegam a 15% das respostas. “Isso realmente acontece, há menos oportunidades para profissionais mais experientes. É quase como um funil, as opções para cargos iniciais são muito numerosas, enquanto para cargos mais seniores, são cada vez menores. Fora que quanto mais experiência você tem, você é mais caro para uma empresa”, afirmou Ana Paula Prado, Country Manager do InfoJobs.
Conselho de especialista
A coach de carreira Aline Saramago concordou que o preconceito com profissionais mais maduros de fato existe, mas na visão dela, o ponto principal é não desistir. “Muitas pessoas nessa faixa etária enfrentam mudanças na carreira. Uma transição de quem viveu trabalhando para uma empresa que passa a fazer consultorias, as vezes começa a dar aula, ou até mesmo empreende”, contou.
“Você pode além de ser um funcionário, ter um negócio, ser consultor autônomo em alguma atividade e pode também ter investido desde cedo e ter essa veia investidora. Então, é importante as pessoas terem essa adaptação, essa flexibilidade, para que possam buscar novas opções caso não estejam conseguindo se empregar novamente, se o desejo for de seguir produzindo”, acrescentou.
A coach reforçou, ainda, a importância de manter a inteligência emocional nesses momentos difíceis. “A questão do controle emocional é sempre importante porque, muitas vezes, as pessoas ficam realmente deprimidas e ansiosas com o que pode acontecer. Então, realmente, tem que cuidar da mente e do corpo porque está tudo interligado e é importante ter saúde para poder dar resultados seja em qual atividade for”, aconselhou.
Busque seus direitos
Na hora de enfrentar os preconceitos no mercado de trabalho, vale buscar aconselhamento profissional e até entrar com uma ação na Justiça, conforme orientou o advogado trabalhista Ricardo Basile.
“A honra é um Direito constitucionalmente tutelado e, por contas disso, inviolável. Ninguém pode ser tratado de forma preconceituosa e, assim, ser ofendida ante a idade que possui. Entendo que nesse caso cabe ação de reparação por danos morais a ser ajuizada na Justiça do Trabalho, cabendo, por outro lado, a robustez da prova do fato alegado. Qual seja: a ofensa perpetrada pelo ofensor, no momento da entrevista de emprego”, afirmou
Segundo Basile, a responsabilidade é direta da empresa que, ao negligenciar tendo em seus quadros recrutadores que não observam os princípios legais, causou dano moral ao outro.
O profissional por trás do número
Apesar de as pessoas acabarem sendo rotuladas conforme a sua idade, muitas empresas ainda reconhecem o talento por trás de pessoas maduras, como é o caso do Fabiano Gonçalves, de 50 anos, que atua no Núcleo de Relacionamento, Comunicação Interna da Assessoria de Comunicação do Departamento Nacional do Sesc.
“Ainda estou em uma idade bastante produtiva e não considero a possibilidade de me afastar do mercado de trabalho. Na organização em que atuo, há muitos profissionais sêniores, como eu. Atuamos em harmonia com profissionais mais jovens, o que de modo algum significa menos capacitados, com bastante troca de experiências”, relatou.
Para Fabiano, essa interação entre as faixas etárias enrique o cotidiano de trabalho: “Acho que a existência de profissionais com perfis diferentes enriquece o ambiente de trabalho. Entendo que isso diz respeito não apenas ao tempo de vida e/ou de trabalho de cada integrante da equipe, mas também à diversidade de gênero, raça, orientação sexual, origem, cultura… Estar aberto para vislumbrar o mundo, não somente o corporativo, do ponto de vista do outro, a partir das suas vivências e compreensões, é uma chance única de crescimento, não apenas profissional, mas também, ou mesmo principalmente, pessoal”, concluiu.
Fonte: O Dia
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