Metade da população prevê que coronavírus terá efeito prolongado na economia
Os brasileiros estão incertos sobre a duração da crise provocada pelo avanço do coronavírus, mas a maioria dos trabalhadores prevê que sua renda diminuirá com a paralisação da economia nos próximos meses, segundo pesquisa realizada pelo Datafolha na semana passada.
De acordo com o instituto, 79% das pessoas preveem que a economia brasileira será muito afetada pela propagação da doença. Outros 16% acham que ela será pouco afetada, e somente 3% dizem que ela não será prejudicada.
O pessimismo é grande mesmo entre apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Entre os que aprovam seu desempenho na administração da crise, 72% preveem que a economia brasileira será muito afetada pela disseminação da doença.
O Datafolha entrevistou 1.558 pessoas por telefone celular entre quarta (18) e sexta (20). O instituto realizou as entrevistas a distância e não presencialmente para evitar o contato pessoal entre pesquisadores e entrevistados.
Na semana passada, bancos refizeram projeções para estimar o impacto econômico do avanço do novo coronavírus e concluíram que a economia global está a caminho de uma nova recessão.
No Brasil, o Ministério da Fazenda rebaixou sua previsão de crescimento para este ano —de 2,1% para 0,02%.
Os economistas ainda estão inseguros em relação à duração da crise. A maioria trabalha com a hipótese de que as maiores economias irão se recuperar no segundo semestre, mas tudo ainda depende do alcance da infecção, que ainda está se espalhando rapidamente em países da Europa e nos Estados Unidos.
A paralisia da atividade econômica, o isolamento da população e outras medidas restritivas necessárias para combater o vírus tendem a deprimir a demanda por bens e serviços no mundo inteiro, reduzindo a renda e o consumo e freando investimentos das empresas.
De acordo com o Datafolha, 50% dos brasileiros preveem que a crise terá efeitos prolongados e 44% acham que os prejuízos econômicos se esgotarão em pouco tempo. As mulheres estão mais pessimistas do que os homens. Entre elas, 53% preveem uma crise econômica prolongada.
A maioria tem a expectativa de que sua vida financeira pessoal será afetada pela crise. Para 45%, o prejuízo será passageiro, mas 28% acham que terão dificuldades por muito tempo. Somente 24% dos entrevistados disseram que não esperam ter prejuízos com a crise econômica.
A insegurança é maior entre as camadas mais pobres da população. De acordo com a pesquisa, 32% dos que têm renda familiar mensal de até dois salários mínimos (R$ 2.090) preveem que sofrerão prejuízos causados pela crise por muito tempo e 41% acham que os efeitos serão passageiros.
Entre os mais ricos, com renda familiar mensal superior a dez salários mínimos (R$ 10.450), somente 19% têm a expectativa de prejuízos prolongados com a disseminação da doença; outros 54% afirmam que os danos sofridos com a crise serão superados em pouco tempo.
A maioria das pessoas ouvidas pelo Datafolha diz que não terá condições de continuar trabalhando em casa na crise. Segundo 54% dos entrevistados, suas atividades não poderão continuar sendo realizadas remotamente enquanto durar o período de isolamento recomendado pelas autoridades.
A perspectiva de ficar sem trabalho e renda é maior nas camadas mais desprotegidas. Entre os mais pobres, 60% dizem que não terão condições de continuar exercendo suas atividades. Entre os mais ricos, somente 25% preveem que terão essa dificuldade com o aprofundamento da crise causada pela Covid-19.
As dificuldades serão grandes mesmo entre os trabalhadores que têm alguma proteção garantida pela legislação. Entre os trabalhadores com carteira assinada, só 35% afirmam que poderão trabalhar em casa. Entre profissionais liberais e autônomos, 51% dizem que poderão trabalhar remotamente.
O governo anunciou que criará um auxílio emergencial de R$ 200 por mês para trabalhadores do setor informal e outro para quem tiver registro em carteira receber até dois salários mínimos por mês e tiver a jornada de trabalho reduzida durante a crise, mas os detalhes ainda não foram divulgados.
Segundo o Datafolha, 57% dos trabalhadores têm expectativa de diminuição da renda nos próximos meses. A insegurança é maior para os mais pobres do que para os ricos. Entre os que têm renda familiar de até dois salários mínimos, 61% preveem que seus rendimentos encolherão com a crise.
Entre os assalariados com carteira assinada, 51% têm a mesma expectativa. Entre profissionais liberais e autônomos, 78% preveem que a redução ocorrerá.
Mesmo entre os ricos, com renda superior a dez salários mínimos, 49% esperam diminuição da renda nos próximos meses da crise.
Folha de SP