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Caixa 'exterminadora' e fintechs vão afundar bancões na bolsa em 2020?

Foto do escritor: Sindicato dos BancáriosSindicato dos Bancários

Os bancões têm atrapalhado o desempenho do Ibovespa neste começo de ano. Nos dois últimos pregões da semana passada, por exemplo, o aumento da concorrência entrou mais fortemente no radar de investidores, derrubando suas ações. E o principal índice da B3, naturalmente, acabou ficando preso ao campo negativo naquelas sessões.

Até o fechamento de segunda-feira (13), as ações preferenciais (PN, que dão preferência por dividendos) do Bradesco acumulavam queda de 3,75% em 2020; as ordinárias (ON) do Bradesco, que dão direito a voto em assembleias, 2,95%; as PN do Itaú Unibanco caíram 5,46%; as ON do Banco do Brasil, 4,54%; e as ações do Santander, 2,07%.

O setor bancário representa cerca de 25% da carteira teórica do Ibovespa. Ou seja, para o índice alçar voos altos em 2020, como prevê a maioria das casas de análise, a tônica ao longo do ano precisará sem bem diferente da apresentada até aqui.

Um obstáculo importante para o desempenho dos bancos neste começo do ano tem sido a crise geopolítica entre Estados Unidos e Irã. Em cenários de incerteza mundial, mercados de ações emergentes como o brasileiro, considerados mais arriscados, acabam pagando o pato. E, no Brasil, o setor bancário, dos mais líquidos da B3, acaba sendo usado pelo investidor estrangeiro para reajustar a exposição ao país em suas carteiras.

Ainda assim, a queda dos bancos na semana passada teve como pano de fundo principal a cena doméstica bancária, em que a diminuição da concentração estrou com força no radar do investidor.

Na última quinta, foram destaque as declarações do presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, favoráveis ao chamado open banking. A medida prevê que instituições financeiras padronizem parte de suas tecnologias para facilitar o compartilhamento de dados de clientes. Assim, poderiam oferecer mais produtos e serviços, acirrando a competição e pressionando, em tese, o nível dos juros bancários no Brasil para baixo.

Se os juros caírem, as receitas dos bancos serão inevitavelmente impactadas em algum nível. Mas para Alvaro Bandeira, economista-chefe do banco digital Modalmais, os solavancos sentidos por esses papéis aqui e ali tendem a ser diluídos no longo prazo. Os estímulos do Banco Central à concorrência, diz, vão mesmo tirar participação de mercado dos bancos maiores. No entanto, isso não tende a representar perdas significativas para acionistas.

“A economia vai continuar crescendo nos próximos anos, e o crédito vai se fazer mais presente”, diz Bandeira. “Mas a redução do retorno sobre patrimônio líquido [trazida por aumento de concorrência] seria pequena, e os retornos continuariam favoráveis.”

Bandeira lembra que bancos são tradicionais bons pagadores de dividendos e bons geradores de lucro. Por isso, entende que, mesmo num cenário de concorrência mais acirrada, eles continuam figurando como boas alternativas na bolsa brasileira.

Além dos sinais emitidos pelo Banco Central pró-abertura do setor bancário, também vem do setor público outra pedra no caminho dos bancões. Conforme noticiou o Valor, a Caixa Econômica Federal está nos últimos ajustes de sua estrutura especificamente criada para oferecer crédito a empresas – o que, hoje, ocorre de forma difusa em sua rede de agências.

De acordo com o que foi apurado pela repórter Talita Moreira, a artilharia da Caixa estará voltada, principalmente, para companhias de médio porte. E é justamente aí onde está o filé do mercado de crédito brasileiro atualmente. Empresas de grande porte têm preferido recorrer à emissão de títulos de dívida para se financiar. E entre os clientes pessoa física já há mais de 63 milhões de endividados – aponta levantamento da Serasa Experian.

A política de maior agressividade da Caixa pode ser medida ainda por declarações do presidente da República, Jair Bolsonaro, na noite da última quinta. Em live no Facebook na semana passada, ele convocou brasileiros a trocarem os bancos onde são correntistas pela Caixa. Disse também que a estatal continuará baixando juros para induzir a concorrência a fazer o mesmo. E batizou o Pedro Guimarães, atual presidente do banco público, de “exterminador de bancos”.

“A postura do governo em estimular competição já bate nos preços das ações do setor”, diz o analista Pedro Galdi, da Mirae Asset, ao citar as mudanças recentes nas taxas de cheque especial e consignado. “Mas, embora seja um cenário negativo, não podemos desconsiderar que os bancos historicamente se ajustam a mudanças de cenário com grande eficiência e rapidez.”

Para Galdi, o principal obstáculo para os bancões não vem do setor público, mas da disrupção causada no mercado financeiro pelas fintechs. “Enquanto essas novas empresas já nascem com plataforma digital, os bancões se deparam com a ineficiência e o alto custo de manter agências físicas”, diz.

Apesar disso, assim como Bandeira, Galdi não acredita que o aumento da competição no setor seja um entrave real para seus papéis em bolsa manterem a tendência de alta no médio e longo prazos. “Tempos atrás, as ações de bancos acumularam grande valorização e com este ajuste atual seus preços voltam a ficar atrativos”, diz. “E vale lembrar que essas ações têm grande participação no Ibovespa, e o mercado não vai querer afundar o Ibovespa neste ano”.

O analista-chefe da Toro Investimentos, Rafael Panonko, entende que as fintechs são, sim, uma ameaça real à concentração bancária no Brasil, mas que serão também um motor importante para bancões se reinventarem e continuarem crescendo. “Os bancões estão sendo obrigados a atrelar às suas realidades um movimento de inovação e mudança de comportamento”, diz. “E, claro, com maior concorrência, quem tem a ganhar é o brasileiro, com melhor qualidade em serviços”.

Relatório enviado pelo Citibank aos seus clientes nesta segunda-feira (13) reforça que, apesar de os bancos digitais estarem “na crista da onda”, os bancões continuam oferecendo melhores perspectivas aos investidores.

Na visão da casa, 2020 será marcado por reformas e aceleração de crescimento, o que favorecerá as receitas do setor financeiro. E ainda que seus analistas entendam que o novo teto para o cheque-especial e o assédio das fintechs possam prejudicar as margens de lucros dos bancões, bancões ainda estão a frente do mercado.

A todos os maiores bancos brasileiros, o Citi manteve a sua recomendação de “compra”. A ação do Santander Brasil tem o preço-alvo de R$ 54; Itaú Unibanco, R$ 43; Banco do Brasil, R$ 60; e Bradesco, R$ 45 – entre os bancos, esse último é o favorito (top pick) do Citi. A única recomendação de “venda” é justamente para o digital Banco Inter, cujo preço-alvo é de R$ 11.

Fonte: Valor Investe

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