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Conheça a Fintwit, a comunidade do mercado financeiro no Twitter


Equivalente a blogueiras da moda para o mundo dos investimentos, seus integrantes opinam sobre tudo

"A fintwit precisa se acalmar... Muita tensão nos últimos dias", escreveu Faria Lima Elevator (ou @FariaLimaElevat) em sua conta no Twitter, que faz humor com o estilo de vida da Faria Lima, o centro financeiro de São Paulo.

Quando a mensagem foi publicada, no dia 4 de setembro, o dólar caía e a Bolsa recuperava 100 mil pontos após uma sequência de dias traumáticos que levou o dólar a disparar para a faixa de R$ 4,15.

O Faria Lima Elevator é um exemplo dos grupos de profissionais que aproveitam a influência nas redes sociais para dar palpites sobre investimentos e cenários econômicos.

Integra a autoproclamada comunidade cujo nome é formado pela junção de Fin (abreviatura de financeiro) e twit (de Twitter) —alusão ao fato de gravitarem no mercado financeiro e usarem o Twitter como principal plataforma de comunicação.

É difícil dimensionar o tamanho dessa comunidade. Ela reúne gestores de grandes e respeitados fundos do país, traders (pessoas que compram e vendem ações diariamente), analistas, economistas e ainda perfis anônimos —depois do Faria Lima Elevator, surgiu o Faria Lima Estagiário.

Segue ainda uma tendência identificada em outros mercados —com destaque óbvio para os Estados Unidos— de expressar opiniões nas redes sociais. O objetivo de seus integrantes, ainda que não declarado, é gerar engajamento e estimular os negócios. Eles são o equivalente das blogueiras de moda do mundo financeiro.

O número de integrantes e principalmente de seguidores, cresce na esteira da valorização da Bolsa brasileira e do crescimento da participação do investidor pessoa física no mercado --que superou 1 milhão de investidores.

Se alguns integrantes fossem ações e o seu número de seguidores correspondesse a valorização do papel, seu desempenho superaria de longe o do Ibovespa (o principal índice acionário do país).

No gráfico ao lado, o maior engajamento nas postagens foi comparado ao volume médio diário de negócios na Bolsa. Um investidor que tivesse comprado, por exemplo, @FariaLimaElevat no final do ano passado teria lucrado quase 600% até agosto. A Bolsa subiu 15% no período.

Com a disposição dessas pessoas para falar abertamente no Twitter sobre temas que antes eram tratados entre quatro paredes de seletos escritórios, o volume de informações que chega ao pequeno investidor ganhou uma dimensão sem paralelo —assim como não tem paralelo o poder de influência dos analistas mais populares.

A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) não possui regulação específica para profissionais nas redes sociais. Em tese, eles podem expressar opiniões no Twitter, desde que preservem os princípios de não manipular os preços de um ativo ou dar recomendações de investimento sem a licença devida.

Não há registro de Fintwit punido pelo regulador por postagem indevida.

Na semana passada, o assunto preferido era o tombo das ações da Magazine Luiza. A companhia chegou a perder R$ 5 bilhões em valor de mercado entre segunda (10) e terça-feira (11), a reboque da mudança de postura da Amazona no Brasil.

Na madrugada de terça a Amazon anunciou o lançamento do serviço Prime no Brasil a R$ 9,90 por mês. Não houve nenhum pio sobre a baixa na segunda. Publicamente o debate começou no dia seguinte, mas sabe-se que a notícia já havia saído de dentro dos escritórios da Amazon na sexta anterior.

Na quarta, o primeiro dia de alta após os dois tombos, o tema gerava memes. Um deles foi com o gráfico com o preço das ações em queda formando um M —esse foi postado por Rafael Ferri (@cafecomferri), membro do Traders Club, uma plataforma paga para troca de informações sobre o mercado.

Nos comentários, um seguidores sugeriu: "Não provoca o Bredda, Ferri!".

Bredda atende por Henrique (@hbredda), um dos gestores da casa de fundos Alaska e comprado em Magazine Luiza (ou seja, tem muitas ações da empresa). Ele respondeu: "MGLU tem 2% do varejo brasileiro. Se a Amazon tiver sucesso no Brasil, o q duvido, são os outros 98% que precisam se preocupar, não o melhor operador". Em uma semana, a Magazine Luiza terminou com desvalorização de cerca de 5% na Bolsa.

A maior demonstração de poder de pressão da Fintwit ocorreu no início de setembro. O relatório de uma corretora atribuiu aos influenciadores digitais uma mudança promovida pela B3 na metodologia de cálculo do fluxo de estrangeiros na Bolsa.

Até o início de setembro, a saída de recursos estrangeiros da Bolsa brasileira superava os R$ 20 bilhões no ano e já comprometia o otimismo dos investidores.

Por que há saída se o Brasil faz reformas? Integrantes da Fintwit questionaram. Não haveria fuga dos investidores internacionais já que eles participavam de IPOs (oferta pública inicial de ações) e follow-ons (ofertas adicionais de ações).

Resultado: a B3 incluiu esses números na conta, alterando uma metodologia em vigor desde 1994, e o fluxo de recursos estrangeiros ficou em mais de R$ 1 bilhão positivo da noite para o dia.

A comunidade discute também estratégias de investimento. Threads (sequências de postagens encadeadas) de Sérgio Machado (@sf2invest), por exemplo, são compartilhadas com a observação de "aula" ou "aula gratuita".

Em uma das mais recentes, ele criticava o senso comum de que fazer "day trade" (comprar e vender ações no mesmo dia) é "suicídio assistido" --palavras dele.

Machado, que também é do Traders Club, disse que existem cursos para aprender a operar day trade, com um link, e terminou a série de 11 postagens dizendo que "o problema não é a operação, é o operacional. Não matemos o mensageiro pela mensagem".

Pesquisa da FGV (Fundação Getulio Vargas), encomendada pela CVM, mostra que o prejuízo acumulado por quem tentou viver de day trade chegou a R$ 68,4 milhões --R$ 35,90 por dia. Mais de 90% dos entrevistados, quase 20 mil investidores, tiveram prejuízo após um ano.

Mas há opiniões sensatas. A conta em inglês @Stockcats. Gatinhos, faz boas piadas sobre previsões convictas que não se confirmam.

Faria Lima Elevator tem humor afiado: "Perguntei hoje ao estagiário o quanto o mercado já influenciou na vida dele. Ele respondeu que agora abastece o carro (sim, ele tem) em 8 postos diferentes por vez, para fazer o médio da gasola. Tá aprendendo o menino".

Folha de SP

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