Guedes avalia que digitalização substituirá servidores que se aposentarem
Ministro da Economia calcula que entre 40% e 50% dos funcionários se aposentarão nos próximos anos e não serão substituídos. Equipe defende aumento da produtividade dos trabalhadores públicos que ganham mais do que os do setor privado
Paulo Guedes diz que, se não houver reforma da Previdência, União não terá como pagar folha em 2020 (foto: Sérgio Lima/AFP)
O governo federal não pretende realizar concursos nos próximos anos, segundo o ministro da Economia, Paulo Guedes. Na avaliação dele, é preciso investir na digitalização do setor público para compensar a redução no quadro de pessoal. A pasta também alerta que não haverá recursos suficientes para honrar com a folha de pagamento do setor público em 2020, caso a reforma da Previdência não seja aprovada.
O discurso ocorreu no Rio de Janeiro, numa palestra feita por Guedes na Fundação Getulio Vargas (FGV). Ele destacou que entre 40% e 50% dos servidores vão se aposentar nos próximos anos, mas que não haverá contratação de pessoas para repor o contingente perdido. “Vamos investir na digitalização”, justificou o ministro. A equipe econômica tem defendido que é preciso aumentar a produtividade dos funcionários públicos, que recebem, em média, mais do que a iniciativa privada.
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Além de redução no quadro de pessoal, o Ministério da Economia também prevê dificuldade de pagamentos nos salários dos trabalhadores no próximo ano. Guedes ressaltou, porém, que o dinheiro “cai naturalmente” com a mudança na lei de aposentadoria e pensões. Um estudo divulgado ontem pela Secretaria de Política Econômica (SPE) da pasta mostrou que os salários dos servidores estão em risco sem a reforma, assim como a solvência do Estado.
De autoria do secretário Adolfo Sachsida, a pesquisa mostra que, até 2023, haverá problemas para provisão de bens e recursos públicos para saúde, educação e segurança. Segundo projeções do Ministério da Economia, se as contas públicas continuarem nesse ritmo de deterioração, a dívida pública bruta do país vai alcançar 102,3% do PIB. “Na raiz da deterioração fiscal e da crise econômica, encontra-se um processo estrutural de descontrole dos gastos públicos e, em particular, dos gastos com benefícios previdenciários”, defendeu o secretário.
O discurso da equipe técnica tem sido duro. Guedes tem dito que, se o país abrir mão de economizar, pelo menos, R$ 1 trilhão em 10 anos, com a reforma, as futuras gerações estarão condenadas. Durante a palestra de ontem, Guedes destacou que a base aliada já tem 160 votos “declarados” para votar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) na Câmara dos Deputados e outros 100 “velados”, totalizando 260. Para aprovar na Casa, são necessários, porém, 308 votos em dois turnos. Mesmo com a intenção de Guedes de fazer uma reforma abrangente, com grande economia em uma década, os economistas não acreditam que o patamar de R$ 1 trilhão seja alcançado.
As estimativas dos analistas apontam que, após as mudanças no Congresso, a economia prevista será de R$ 500 bilhões a R$ 850 bilhões em 10 anos. Outro ponto que não deve ser concretizado é o tempo de aprovação do texto. Guedes quer que a proposta tenha o aval na Câmara e no Senado no primeiro semestre do ano, ou seja, em 76 dias. A matéria ainda não foi discutida na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da primeira Casa Legislativa, onde ocorre a primeira etapa.
O mercado acredita que a reforma só será aprovada entre setembro e outubro. O ministro destacou, porém, que há vontade e interesse da classe política. Segundo Guedes, o programa econômico do governo está andando, mas “quem dá o timing é a política”.
Reforma não resolve, diz FMI
O chefe da missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o Brasil, Antonio Spilimbergo, disse que a proposta de reforma da Previdência apresentada ao Congresso pelo presidente Jair Bolsonaro é “forte”, mas só essas medidas não serão suficientes para resolver as deterioradas contas fiscais brasileiras, que estão em trajetória insustentável. “Reformas adicionais são necessárias para restaurar a sustentabilidade fiscal do Brasil”, disse durante evento na Fundação Getulio Vargas (FGV). O economista disse que cumprir o teto de gastos nos próximos anos vai exigir reformas fiscais ambiciosas.
Fonte: Correio Braziliense